Publicado no Jornal A Tarde em 10.07.2016
Era 02 de julho de 2016. Chegamos ao Pelourinho pela manhã sob a recepção das chuvas. A força da jurema se manifestava pelos elementos da natureza. Preocupados com os corpos molhados, sem querer limitar as bênçãos, andamos em direção à Igreja do Rosário do Pretos. Não era uma mata, não era um barracão, no qual poderíamos ficar aos pés dos caboclos, mas a música nos alentou: “Um abraço negro, um sorriso negro traz felicidade.” Parecia que tínhamos planejado entrada tão cinematográfica, festiva. O fotógrafo já estava por lá. Ficamos um pouquinho na missa, nos abraçamos.
A chuva passava, de vez em quando voltava, a jurema firme. Sentíamos o cheiro do amassi (banho de folhas), ordenado por índios e índias que vestem couros e penas. Resolvemos esperar à porta do CEPAIA (Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos) da UNEB. Depois visitação à faixada do Pilar, um pouco de café com leite, um olhar nos preços da feijoada, do sarapatel, uns goles de água mineral. Selfies feitas por Madalena Leone aos sorrisos. Tiveram fotos com autoridades, vestindo a camisa do projeto UNEB no Largo e um casal sexagenário a beijar-se publicamente, celebrando um Bavi. Ele com as roupas de meu Bahia, ela trajada com o Vitória de meu saudoso tio. A comunhão da festa fora confirmada naquela cena.
Os caboclos ainda não passavam, políticos vinham à frente como a abrir caminhos para as celebridades miraculosas. Lilian Conceição, Marielson Carvalho, Marcelo Delfino registravam tudo. Algumas pessoas faltaram com medo das chuvas, outras quebraram o jejum de anos, vieram se molhar com a força da jurema, a energia dos caboclos. Quem pensa que o 02 de julho é só civismo se engana. Os mais atentos agradecem às divindades da independência com flores, cânticos, rezas e outras oferendas. Quem é justo, mesmo sem ser de fé, diz com serenidade: salve as caboclas e os caboclos da Bahia, salve a independência!