José Desconfiado, como vocês devem desconfiar, é um sujeito que não dá conversa nem para bem-te-vi em árvore. Quando criança, ele não usava porquinho para guardar moeda: achava que o bicho poderia fugir a qualquer momento com o dinheiro dele. “Hunf, tem quatro pernas para quê?”
Quando a professora falou que ele não estudava em casa, José ficou mesmo desconfiado. Como afinal ela sabia? Chegou para o pai e disse baixinho: “Pai… Ei, Pai… a pró me vigia aqui.”
Aos quinze anos, só deixava entrar no quarto quem fizesse primeiro um teste de impressão digital. “Pronto, pronto, você é minha irmã mesmo.”
Aos trinta, comprou duas casas, lado a lado. “Só confio num vizinho que seja eu”, disse ele. Um mês depois se mudou. “Desconfio que eu esteja roubando meus jornais!”
E agora, para José Desconfiado cuidar da saúde, o médico precisa antes tomar todos os remédios na frente dele. “Mas, José! Não sou eu o doente!”, implora. E o nosso velhinho ranzinza responde: “Se nem você tem coragem de engolir isso, alguma coisa errada há!”
Mas guardem segredo. José Desconfiado não pode nem desconfiar que fomos nós que acabamos de inventar a vida dele.