Andaram tropeçando nos buracos do centro da cidade durante todo o dia. Caminhavam lentamente em silêncio, sem se tocarem. Ele, turista de primeira viagem além mar. Ela, anfitriã mostrando as ruínas de onde os outros consideram belo. Os dois eram bonitos juntos, apesar de tudo ou apesar do nada que se estabelecia ali. Não sabiam que algo já havia interrompido aquele encontro. A viagem, embora no início, já era fim. Cansados e ainda em silêncio como pedra na garganta, peso no estômago, sentaram-se na balaustrada daquele antigo convento que dava para uma exuberante vista da Baía de Todos os Santos. Pareciam duas estatuetas gregas, sei lá, estáticos, pescoços retos, mirando o jardim.
Ela falou quase como quem confessasse, como quem falasse a si mesma:
– Bonitas essas plantas que se penduram nas árvores, o tom desse limo que gruda nelas.
Ele também como quem conversasse sozinho e quase ao mesmo tempo:
– São parasitas.
………………………………… Silêncio estrondoso……………………………………………….
– Se aproveitam das árvores porque só podem viver desse jeito, mas as árvores devem gostar. Não acabarão sozinhas, terão sempre alguém acompanhando com elas as luas seculares de suas existências.
Ele nem notou, mas ela já estava de costas com os olhos refletindo o sal.