Publicado no Jornal A Tarde em 25.12.2016
É fácil encontrar, entre os que dizem não festejar o natal, os que cumprem alguns de seus rituais. Há quem conteste, mas acenda os piscas-piscas, exiba ornamentações na varanda, monte árvore de natal, deseje feliz natal. Empolgados pela miraculosa parcela do décimo terceiro salário, o tal chester ou o velho galeto assado com farofa de passas passa a adoçar a noite de Cristo com vinho, cidra, cerveja, caipirinha.
Alguns se enchem de alegria, outros de contrição e tristeza a contemplar Jesus crucificado, lembram de seus próprios pecados, demonstram-se arrependidos, santos naquele dia. Seja ouvindo as notas de “É natal” ou “Boas Festas” de Assis Valente, o tempo se faz de reflexão. Na mesma cozinha, outros preferem harmonias mais alegres, destoantes das contrições natalinas, próximas das carnavalescas alegrias baianas. Carnavaliza-se o natal: gritos, brindes, fogos de artifício, o beijo do amor, pois Cristo nasceu. Existe, entretanto, ao menos, um desejo que unifica formas de viver o natal. Sim, pode ser a vontade de paz, isso provavelmente também, mas o maior desejo deve ser o de afastar a solidão. Ninguém quer passar o natal sozinho, esquecido! Procura-se uma tampa para a panela ou uma panela para a tampa. Anunciam-se às pessoas bem antes da data, através de convites, indiretas, postagens na internet ou em silêncios melodiosos para que o outro tenha o coração tocado.
Então chega o dia, desde cedo os preparativos invadem os cotidianos. Para alguns, a solidão já é vista nos bastidores. Para outros, as tristezas de algumas melodias já foram transmutadas em felicidades pelo vai-e-vem detrás das cortinas. É noite, espera-se por Papai Noel. Um leitor, abandonado, por conta de seus gostos e obrigações, sente Papai Noel chegar. Negara convites, tinha prazos a cumprir. Queria o trabalho e os festejos em um lugar só. Fecha o livro, quer dormir. Papai Noel se despede, diz que o amanhã será um vir a ser positivo. O abraço do velhinho o conforta, acalenta. É natal, ninguém está só!