Com tanta gente importante
E um legado nos deixou:
Ele nos deu a Bethânia,
Também Jorge Portugal,
A Dona Edith do Prato,
Caetano (o mais genial),
O grande Roberto Mendes;
são dezenas no total.
E é para Antônio Vieira-
Grande vate do cordel –
que esses versos eu dedico.
Excelente menestrel
Nos deixou tão rica obra
Pra agora rimar no céu.
Como já virou costume
Arrumei minha bagagem
Me mandei pra Santo Amaro.
Dessa vez criei coragem
Para cantar a cidade
em sua insana lavagem.
Eu consultei Nazaré
Que, entre tanta Maria
Cidadã santamarense,
Sempre cai nessa folia.
Do sagrado e do profano
A mulher não perde um dia.
Foi assim que eu descobri
Os ritos, a tradição
Tão Antiga na cidade
E agora faço questão
De mostrar para vocês.
Prestem bastante atenção!
Sempre em dias de domingo
O lar de Dona Canô-
Matriarca da cidade-
Abre as portas pro louvor
Recebe muita baiana
E muito Babalaô.
E segue alegre o cortejo
Com charangas, com fanfarra
Cantando hinos profanos
E sagrados na algazarra
Que chega ao adro da igreja
Como o poeta aqui narra.
No trajeto do cortejo
Vai chegando a multidão:
Curiosos turistões
Em meio ao grande povão
Faz dessa festa distinta
Verdadeira tradição.
Nas escadas da Matriz
Se inicia a confusão.
A procura por espaço
Quase acaba em empurrão
E em frente aos olhos da Santa
O sol aumenta a pressão.
Dada a volta pela igreja
Continua o afoxé
Os bloquinhos pelas ruas
Funcionam como sopé
Para a festa, e na cidade
Vão fazendo cafuné.
Em frente à igreja matriz –
A da Purificação –
O palco vira um altar.
Em meio à tanta atração
A festa até se parece
Um festival de verão.
Atrás da igreja também
Tem palco: o Prata da Terra.
Alguns chamam Bagacinho
Pois é lá que o bicho pega
Vai do arrocha ao rock'n'roll
E a galera roots se entrega.
Além disso, o Tô na Aba,
Também o Sou do Luar-
Dois blocos tradicionais
Nessa festa popular –
Comandam a grande massa
que ali só quer festejar.
No bloco das Xumbregueiras –
Espécie de Muquiranas –
O homem vira mulher
Numa energia insana
Comprovando que a lavagem
É festa mais que mundana.
E quando chega ao seu fim
(Todo ano é sempre igual)
O povão embriagado
Já em outro ritual
Manda ver: e em qualquer beco
tem gente quebrando o pau.
Briga mulher como mulher
Por acusações de frete
Sempre sobra pro marido
E a polícia não se mete
Mas quando é homem com homem
Já chega de cacetete.
A cidade fica cheia
De gente de Salvador,
Santo Estevão, Cabuçú.
Vem sambista, cantador
Político, capoeira,
Folião, pesquisador,
Tudo isso para a festa
Mais longa da regiã
Certamente a mais diversa.
É grande a aglutinação
Em prol do mesmo pretexto
E não importa a razão.
A festa do Santo Amaro
Termina com a procissão
Que se dá no dia 2
Aí a fé do cristão
Se mostra em Nossa Senhora:
“Viva à Purificação!!!!”.
Elton Magalhães é poeta-cordelista, mestre em Literatura pela UFBA, professor da UCSAL e autor de 2014: O Ano da Copa no País do Futebol.