Amor: esta palavra acende uma
lua no peito, e tudo mais se esfuma.
E testemunho: eis que Amor deixou
ferida cada coisa que tocou.
E tudo dele fala: a mesa, a cama
(como abrasa este hálito de chama!),
o bar, cadeiras, livros e paredes
vivem, revivem: de fomes e sedes
a corpos saciados. Tudo fala,
tudo conta. Só a boca é que se cala.
Amor. Do extinto pássaro, o vôo
prossegue, inexorável. Mas perdôo,
eu, essa lâmina que me escalavra,
revolve em mim, em sua funda lavra,
amor, restos de amor, gestos quebrados,
enganos, mais amor, olhos magoados,
e fúria, e canto, e riso, e dança, e dor.
E a Quimera. E amor, amor, amor
por toda parte trucidado e em flor.