A tristeza se embrenhou no querer, foi tomando lugar na vida. Um dia Joana amanheceu antes do costume, queria acabar com a desconfiança, pensava que com a beleza das cores serenando, ela, a tristeza, sucumbisse. Mas… Não arredou pé. Joana quedava seus dias num canto, a vida passava sem incômodo algum, silenciosa, sem tropeços. Nesse dia de levantar mais cedo, esforçou o corpo para caminhar pela estrada, no trajeto ao acaso encontrou uma mulher, semeava a terra e cantava, espalhava o ar de quem está de bem com a vida, se desimportando do líquido brotando na testa, correndo no rosto prestes a ser engolido. Imaginou que talvez aquele suor alimentasse a alegria de sua alma, quis perguntar a mulher como se faz pra ser feliz desse jeito. A coragem não achou lugar em sua boca, enxergou no pensamento a mulher soltando uma gargalhada, largando no chão a enxada, rindo até cair na terra, seu rosto virar lama, e a chuva esperando a ocasião, caísse, lavasse seu rosto, então ela dançaria mais feliz ainda, pensando na colheita. A chuva trouxe lembranças, sua avó gritava: sai da chuva menina…, corria e ria sem reservas. Acompanhou a chuva com esse pensamento, estava diante do túmulo da avó, as lágrimas nem foram vistas no rosto já molhado, com gesto rápido passa a mão pelas vistas, era a vó, dançava e a chamava: vem vamos dançar na chuva. Ela foi, dançaram juntas e riram de coisas de outro tempo. A avó tirou de um local secreto um embrulho, entregou-lhe e disse para vestir, não podia ficar molhada, a chuva parou, preciso ir, ela disse. Uma nuvem passou nas vista de Joana, a avó se foi. Era diferente de sumir, ela foi para o lugar de onde tirou o vestido. Abriu o embrulho, ainda não tinha se dado conta que a alma se libertara da tristeza, viu o vestido que a vó fez quando era menina, lembra-se de ter chorado, achou feio, as pessoas iriam rir na festa de Natal, que ela não iria ganhar presentes, pois era horrível e desengonçada. O vestido havia crescido, procurou um arbusto, trocou a roupa molhada pelo vestido azul. Andou com ar de quem está de bem com a vida, foi quando esbarrou num rapaz distraído, passou as mãos no vestido, nos cabelos, era ele, ele que enquanto as primas cochichavam ao pé do ouvido sobre seu vestido tímido, apenas piscou, silenciou muita coisa, quem sabe um lugar secreto entenda… Ela riu da lembrança, ele piscou, segurou sua mão e seguiram.