Fui morar na Massaranduba, numa avenida de três casinhas de madeira. Na primeira, morava uma jovem chamada Luzia, com dois filhinhos pequenos, que quase todos os dias apanhava do marido. Na segunda, morava eu, com dois filhos também, que apanhava da vida todos os dias. Na terceira morava Terezinha, uma jovem senhora de pele escura e rosto fino, olhos graúdos, bem magrinha, quase nunca sorria, vendia cuscuz pelas ruas da Cidade Baixa, saía às cinco da manhã gritando com sua voz fina:
– Olha aê: tapioca, carimã e milho!
Eu sempre a acompanhava até a via, ela seguia gritando e eu ia catar mariscos na praia pra garantir o almoço. Isso aconteceu por muito tempo. Até que uma dia, ao acompanhá-la, percebi algo estranho. Ela suspendia e abaixava o tabuleiro da cabeça. De repente, começou a gritar:
– Eu não vou mais! – e repetia em tom de canção. Assim, seguiu até sumir das minhas vistas. Não a vi chegar e nem sair mais.
Cinco anos depois, andando na Barroquinha, ouvi essa voz fina gritar:
– Olha aê! Tapioca, carimã e milho!
Virei-me e lá estava ela, com roupas sujas, sandálias rasgadas, sacudindo um saco de lixo na mão e gritando:
– Olha aê! Tapioca, carimã e milho!