nasci com os silêncios de minha mãe
atravessados no escuro da garganta
na goela sempre rouca há soluço
entalando um dialeto esquecido
despejo em marulhos algumas metáforas
pra dizer a dor dos meus olhos nublados
saudosos duma plenitude
sempre vindoura
cresci
com o peito eriçado
pra querer o bom da vida
não mendigo nada além do parco merecimento
a terra é larga demais e não nos cabe
espremer pulsações no estreito estreito,
o mar é vasto demais e não procede
amuar um barco são
na maresia d’um porto seguro.
mais vale as mãos vazias de vento
aos punhos cerrando firme
areia quente de toda uma praia.
vou-me embora pra Pasárgada
Itaparica ou
Itamaracá
espero por lá encontrar um pouso sereno
onde descanse os meus sonhos puídos
os ombros doídos de tanto
carregar o sol com a peneira
lá
onde se encontre fio de coragem
valentia fina agrestia destemor,
que é pra acender uma vela
e desbravar caminhos
de mar & estrada
(Publicado no Círculo Poético de Xique-xique, ano 6, n. 14. Feira de
Santana, jun/ago de 2018. Nesta edição participaram também Celso Borges,
Adriana Gama de Araújo, Clarissa Macedo, Fernando Abreu, Geane Lima
Fiddan, Nil Kremer, Rita Santana, Rosemary Rêgo e Valdeck Almeida de
Jesus).