ele me penetra como um vento. um vento geral. enorme. maior que um mar. tem as mãos do norte leves, o olho teso, muito forte, muito doce. por favor, não dê animais de presente para esses meninos. animais não são brinquedos nas mãos de crianças, de gentes.
é coisa mais maior de grande. ele, o menino, que canta como se sangrasse e entende. E diz por mim, pondo muito silêncio na leitura que faço dele. quando eu soltar a minha voz por favor entenda. são as lutas, somos todos nós; aqui. são alguns de nós, talvez mais. vivendo lendo atravessando essas palavras. uma geração inteira salobra, tentando deslembrar do tanto que se cantou a esperança, esse peso, suave coisa nenhuma, doutor, suave coisa nenhuma, a moça repetia ao telefone. ele canta ao meu ouvido ao som da caravela de hélices. digo que tenho medo de escutar as vozes do vento, agora que fechei as janelas e parei a máquina pra velejar. ele brada sem stop, para que aprendas da respiração, apenas escutando, sem dizer. sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa sem narrativa explodo de modo a respirar longo, explodo na pausa, ao mesmo tempo.
contrario o ritmo, o tempo das linhas escorrendo pelos dedos, por debaixo do LSD do LCD. preguiça do barulho que faz o enlouquecer, virar caquinhos. o que aprendi só sei quando não digo. preparar flores, plantar árvores, ler o alto sertão sem auto centrar-se. ser verde. ser outra coisa que transborde o sentido, mesmo aquele do rio. de todo modo, não estar seca, ele me ensina, com suas mãos muito velhas, ásperas, leves, precisas. O claro de tão negro do amazonas cortando a pele da terra, antes que vire chão, cimento. ah, menina, ele balança de canoa e me sopra eu estou aqui nesta toada, eu que lhe vi menina, eu que nunca lhe vi mulher, mas imaginei. rompe os olhos de jabutica, esses olhos de aguamento do matogrosso. quem é ela? quem é ela? quem é ela? a mãe que abraça dentro do mar. e outra soprando um sobrevoo oceânico. é isso, eu não vou postar. é isso, entende? ele está aqui nos meus ouvidos, isso basta.
ela pergunta pergunta pergunta pergunta em looping: onde será que isso começa?
quando pousa?
não sei responder porque assim não me pauso.
por isso devolvo.
e para?
e cessa?
enter por enter.
isso do viajar de uma viagem?
ele ouve o que escrevo e tem vontade de verdade.
pra tantas tira som de uma cabaça.
diz que são dúvidas.
me desfia
jogando água no que seca de sol
no que arrefece
sopra minha ferida e diz:
– o tempo é esse rio, e tu a canoa que se cansa e fica no meio da história. por isso podes parar nesta linha se achas que é hora, maninha.
descança.
diz forjando uma amizade que não existe.
lavra-me
com a mão que é a voz.
sorrio, doce, com a suavidade dos aguamentos.
venha,
tire essas mãos da máquina e toque um pouco de terra, de rio.
me derramo.
porque não cesso.
ele me leva livre
ele me cura.
ponho os lençóis para secar, limpos.
parto dolorido as cordas do umbigo de cada âncora e nos repartimos,
toda a manada
cada um na sua correnteza
sendo rio
do corte, agora, só esse da canoa
na espinha, a fenda do pradianti
e fica aquele olho,
que não sai de dentro,
no armário de mim.