Chegou em casa tarde da noite. Abriu a porta do quarto e um cubículo não muito limpo, não muito claro e nem um pouco convidativo a recebeu. Tirou o vestido sujo e foi até o banheiro. Permitiu que escorresse sobre o seu corpo a água fria e salobra que pingava do chuveiro. Dez minutos se passaram e estava de volta, contemplando-se diante do velho espelho empoeirado. Sentiu-se desejável, assim como a sua avó deve ter se sentido ao completar 82 anos. Lembrou-se, repentinamente, da rotina que a esperava no dia seguinte. Engoliu alguns comprimidos de um pequeno frasco que descansava no fundo da gaveta do criado-mudo e deitou naquilo que aceitava chamar de cama. Dormiu. Cinco horas depois, e o insistente toque do despertador a acordou. Foi quando se deu conta, quase com horror, de que ainda estava viva.