eu disse que você tinha de ir,
mas lembrei daquele dia em que você jogou um copo de água fria em minha cara
e me disse que era para compensar por todos os
gelos que não me deu.
agora, o vazio da minha cama,
e o disco de Johnny Hooker que toca em minha
cabeça sem parar
me fazem questionar minhas decisões.
eu sei que já faz tempo,
e que você já deve ter partido para uma cidade
bucólica na Chapada Diamantina,
como prometemos que faríamos,
mas me deu vontade de colar cartazes com fotos
nossas nas paredes da Avenida Sete,
e de escrever poemas de amor com o seu nome nos
postes do Rio Vermelho,
para ver se você pelo menos pensa em mim,
enquanto algum outro qualquer te oferece uma garrafa de São Jorge
ou toca uma canção de Raul.
no fim, somos todos substituíveis.
você nunca foi de se entregar,
mas acho que acabei te convencendo a fazer isso,
e ficamos nós dois à deriva.
planejávamos navegar o Atlântico juntos,
mas o mar é lindo de qualquer maneira
e se eu não estiver ao seu lado quando pisar em
terra firme, por favor,
me mande fotos.
nosso sonho sempre foi
derrubar fronteiras,
só não esperava
que pudesse existir alguma
capaz de separar você
de mim.