A esperteza do macaco
É fraude é ficção
O macaco é bicho besta
E não aprende a lição
Que se ficar no seu galho
Nunca caiará no chão.
Lá nas grotas de Bonfim
Um macaco um certo dia
Saiu pra caçar comida
Todo cheio de ousadia
Não queria ter trabalho
Com astúcia agiria.
Sentou na beira da estrada
‘Perou um carro passar
Pôs o rabo no caminho
Pro pneu atropelar
Quando o acidente ocorreu
Ele pôs-se a gritar.
O motorista desceu
Pra ver o que tinha havido
Viu o macaco gritando
Com o rabo suspendido
Pegou um velho alicate
Cortou o rabo comprido.
Sem o rabo o macaco
Gritou mais desesperado
Incomodando bastante
O motorista pirado
Pedindo o alicate
Em paga ao rabo cortado.
Seguiu por estrada afora
Feliz a comemorar
Perdi meu pobre rabinho
Mas não preciso chorar
Pois ganhei um alicate
Pra poder negociar.
Avistou logo adiante
Um idoso artesão
Que tecia os balaios
Com beleza e precisão
E cortava o cipó
Usando a própria mão.
O macaco deu bom dia
E falou que tinha dó
Do sofrimento do homem
Para cortar o cipó
Ofereceu o alicate
Que pra cortar é melhor.
O artesão recebeu
E o alicate usou
Mas depois de alguns cortes
A ferramenta quebrou
O macaco quando viu
Berrou gritou e chorou.
Desesperado o artesão
Com aquela gritaria
Perguntou para o macaco
O que é que ele queria
Pra pagar o prejuízo
E voltar a calmaria.
Eu quero meu alicate
Ou um destes seus balaios
O artesão concordou
E rápido como um raio
Entregou para o macaco
Um balaio paraguaio.
Seguiu saltando nas trilhas
Com o balaio equilibrado
Na cabeça que lembrava
Do rabo que foi cortado
E do velho alicate
Que acabou todo quebrado.
Agora com o balaio
Faria um bom negócio
Não queria trabalhar
Pois adorava o ócio
Avistou uma beijuzeira
E lhe propôs um consórcio.
Em vez dela carregar
O beiju em uma caixa
Ofereceu o balaio
Que na cabeça se encaixa
De tudo que ela vendesse
Ele ganhava uma taxa.
A beijuzeira contente
No balaio arrumou
Os beijus todos quentinhos
E na cabeça botou
Mas o fundo do balaio
Era podre e se quebrou.
O macaco revoltado
Gritou com muita histeria
Quero um balaio novo
Não aceito porcaria
A mulher lhe perguntou
Se um beiju serviria.
Ele pegou o beiju
E saiu dali contente
Relembrou do seu rabinho
E do alicate sem dente
O balaio esculhambado
Foi o seu pior/melhor presente.
Com o beiju que ganhou
Se sentiu vitorioso
Mas se esqueceu que perdeu
Algo bem mais valioso
Pois pra segurar nos galhos
Será bem mais trabalhoso.
Minha vó já me dizia
Não queira ser mais esperto
Pois o mundo dá mil voltas
Com o seu portão aberto
Se quiser vencer na vida
Aja de um modo mais certo.
Baseado no conto popular O Rabo do Macaco.