– Como eu posso nadar se eu tô dentro do navio?
Foi assim que Guilherme, meu sobrinho, me colocou para pensar de manhã bem cedo. Minha irmã precisou sair e ele ficou em casa comigo. Enquanto eu lavava o banheiro, inventamos um navio, um mar e alguns animais marinhos usando os dois sofás e as almofadas da sala, tentando dar um jeito em sua vontade de mexer com água àquela hora. Volta e meia ele gritava de lá:
-Tati, o tubarão quer me pegar, termina logo aí pra gente brincar, vai.
Terminei de lavar o banheiro e a contação de história ainda não havia acabado, muito pelo contrário, o roteiro ficou ainda maior.
– Agora eu vou cair na água e tu me salva, depois eu te salvo. Pega esse remo aqui, depressa o tubarão tá vindo.
E continuava em um ritmo que parecia mais um siga o mestre.
-Tati, fica no meio senão tu vai cair na água, tá cheio de peixe lá em baixo.
E eu só observando a criatividade dele de transformar o pequeno cenário em uma trama digna de Náufrago, Titanic, As aventuras de PI, filmes que ele com seus 3 anos de idade nunca assistiu. Em algum momento, eu já tão distraída com a história soltei:
-Você tem que nadar companheiro. Nade, nade!!!
E sem intervalo ele respondeu: 17
-Como eu posso nadar se eu tô dentro do navio? Oxente!
Me desarmou total! Havia prestado mais atenção na história, nos detalhes do que eu. Percebendo minha cara de “lenhou! vou responder o quê agora?” mais ágil ainda ele começa a gritar:
-Pega o remo, companheira, pega o remo, a gente ainda tá no navio!
Era isso! Às vezes a gente fica perdido no roteiro de nossas vidas, achando que a água já inundou todo o barco, que os braços não darão conta de tanto nado, que o tubarão já está com a boca em nossa perna, quando na verdade ainda há muitos remos à nossa espera e do lado de dentro no navio.
Pegue o remo companheir@, ainda estamos no navio!