Meus alunos me pediram
Um resumo bem fiel
Abordando o Quinhentismo
Justo em versos de cordel.
Uma ideia interessante
Pra ser posta no papel!
II
Respondi a todos eles:
“Esse desafio assumo,
O assunto em questão
Vai ganhar um novo rumo…
Livro e caneta na mão
Que faremos um resumo”.
III
Como todos já sabiam
Fazer versos e rimar,
O assunto foi fluindo,
No jogo de improvisar,
Dando vez ao Quinhentismo
Na cultura popular.
IV
O nosso quadro de giz
Foi um grande aliado.
O silêncio da galera
Me deixou muito animado
E depois de quatro aulas:
O cordel foi terminado!
V
Então veja o resultado
Conforme vou relatar.
Aproveite esse momento
E comece a estudar,
Além disso, o bom aluno
Deve sempre pesquisar.
VI
“O Brasil foi descoberto
Talvez em mil e quinhentos
Com a chegada de Cabral
Que, além de desalentos,
Trouxe lá dos lusitanos
Esperteza e tormentos.
VII
Era o Brasil colônia
Pelas mãos de Portugal
Em que os descobridores,
Sempre pelo litoral,
Buscavam nossas riquezas
Pra Coroa Imperial.
VIII
Deslumbrados com a fauna
Com a flora e a fartura,
Pouco a pouco os portugueses
Movidos pela usura
Foram impondo ao indígena
Sua língua e sua cultura.
IX
A nossa literatura
Ainda não existia.
Era só exploração
E muita pirataria
Pra levar nossa riqueza
À base da tirania.
X
E assim os portugueses,
Desejosos de informar
Ao reino de Portugal
A riqueza do lugar,
Surgem as primeiras cartas
Que aqui vou relatar.
XI
O primeiro documento
Feito pela expedição
Coube então a Pero Vaz
De Caminha – o escrivão
Para o Rei D. Manoel
Relatando a exploração.
XII
É a Carta de Achamento
Da Terra de Vera Cruz:
Os segredos do Brasil
Sempre em nome de Jesus,
Quando a gente nem sonhava
Possuir cartão do SUS!
XIII
A Carta de Pero Vaz
À Coroa Portuguesa
São relatos deslumbrantes
Com bastante esperteza
Exaltando fauna e flora
E o indígena, com certeza.
XIV
Essa referida Carta
Enviada a Portugal
Tipo um diário de bordo
Pra eles essencial
Deu-se em primeiro de maio, (1500)
Um fato memorial.
XV
Caráter documental
Cheio de “fuxicamento”
Porque texto literário
Não havia no momento,
Simplesmente informações
Do nosso descobrimento.
XVI
A Carta de Pero Vaz
É extensa e cansativa,
No entanto, ela nos mostra
Nossa pátria ainda viva,
Sem ação do predador
Com a sua comitiva.
XVII
Um trecho daquela Carta
Sem nenhum constrangimento:
[…] escrevam a Vossa Alteza
A nova do achamento […]
Quer dizer que o Brasil
Foi achado no alento!
XVIII
Outro trecho diz assim:
(Esses caras de pamonhas)
[…] Nem estimam de cobrir
ou mostrar suas vergonhas […]
Duvido que os portugueses
Não batiam suas bronhas!
XIX
Ali foi a ‘Certidão
De Nascimento’ da gente
Onde a força do invasor
Ocorreu bem livremente:
É o que podemos ver
Sobretudo no presente!
XX
E prossegue o movimento
Movido pela ambição.
Vão chegando os jesuítas
Pregando a religião
Para transformar o índio
Em submisso “cristão”.
XXI
Padre Manoel da Nóbrega
Escreveu com muito brio
O tal do “Diálogo Sobre
A Conversão do Gentio”, ( 1549)
Mas não se sabe se ele
Foi pé quente ou pé frio!
XXII
Padre José de Anchieta,
Veio lá do Tenerife, (1553)
Fez a catequese indígena
Como se fosse um xerife;
Um jesuíta valente,
Só faltou pegar no ‘rife’!
XXIII
Anchieta foi poeta
E fez peça teatral,
Depois fez o Auto da
Pregação Universal;
Pesquisou o guarani
O folclore e o escambal!
XXIV
Ele foi um maioral
Na arte da pregação,
Poliglota, mão de ferro,
Todavia bom cristão
E foi lá no Espírito Santo
Que cumpriu a sua missão.
XXV
E não para por aí
Essa grande comitiva
Que só fez literatura
Puramente informativa
Que a história registrou,
Muito embora evasiva.
XXVI
Surgiram muitos cronistas
Que não valem um centavo:
Gabriel Soares Sousa,
Pero Magalhães Gandavo
E outros que aqui chegavam
Enfrentando o mar bravo. (1530 )
XXVII
O Pero Lopes de Sousa
Também teve atuação,
Mandou carta além mar
No pique da informação
Chamado Diário de
(sem dúvida) Navegação!
XXVIII
São escritos de montão
Que não cabem no papel,
Se eu for relacioná-los
Vou encher um carrossel.
Então falo só daqueles
Que cabem neste cordel.
XXIX
Não devemos esquecer
A escravidão hostil,
Um processo doloroso,
Uma crueldade vil,
Que durante o Quinhentismo
Teve início no Brasil (1530)
XXX
Saiba que o Quinhentismo
Não merece muito aval,
Seu valor é tão somente
Histórico-documental,
Era um monte fofoca
Enviada a Portugal!
XXXI
Concluída essa etapa,
Não fiquei mais dorminhoco!
Pra fazer outro cordel,
Todo mundo ficou louco.
Foi então que resolvemos
Resumir nosso Barroco!
XXXII
Basta ligar para mim
Agora, neste momento
Reservando o seu cordel
Resumido a contento
Exaltando o Barroco
Trabalhado com reboco
Ouro, prata, encantamento…
FIM
Salvador, abril de 2013