Não via a hora da estreia do comercial. “Vai passar no horário nobre, e o bairro inteiro, aliás, a cidade inteira se tornará um buchicho só no dia seguinte!
À tarde, fora buscar o cachê da sua participação e, junto com as outras dançarinas, assistiu ao filme já editado. Faltava apenas a inserção da logomarca do produto. A coreografia, por demais ensaiada no estúdio e na escola de balé que frequentavam, ficou perfeita. Os passos finais, em slow motion, culminavam com o salto de todas em direção à câmera. A colega de perfil mais nórdico e mais próprio, segundo o diretor, mostra, na palma da mão, o copinho do iogurte anunciado – o produto disputando a tela com os sorrisos sadios das moças por breves segundos de imagem congelada.
Às 19 horas, a sala estava apinhada de gente, assim como a janela do cômodo. Quem possuía TV em casa ouvia as reclamações de quem não possuía o aparelho. Todos consideraram mais emocionante assistir ao comercial na casa da artista.
Plim Plim… A emissora anunciou a pausa na programação. Os moleques largaram as bolas de gude na nesga de barro onde brincavam e se enfiaram por entre as pernas dos adultos. A irmã da bailarina, na varanda, interrompeu o beijo e adentrou a sala arrastando o namorado pela mão. Os comerciais que se sucediam, mesmo os mais tolos, nunca tiveram um público tão atento e silencioso.
Começou. As moças dançavam como as cabeças dos espectadores. “Cadê ela?! Cadê ela?!” “Ali, ó. Aquela de roupa azul.” “Mas são várias! Bem que a TV poderia ser maior, né?”, observou um vizinho. “No final fico mais visível”, disse a dançarina aflita. “Psssiu!”, repreendeu a mãe. Para aquela plateia, os 30 segundos foram eternos. Quando o balé iniciou os movimentos finais, a bailarina inclinou-se instintivamente para a TV. Na tela, no canto superior direito, uma tarja branca com o nome do produto apareceu e foi escorregando em diagonal. Foi entrando… entrando… e parou, escondendo ao fundo seu rosto negro tão bonito.