I
Há nas paredes deste quarto
uma ânsia de não ter nada
e fingir-me a deriva nos braços da amada.
Assim demoro, penso e parto
para nenhum lugar ao longe
onde não sei quem fui e o que sou
porque tudo é cicatriz, espera que passou
e mais além, estou aqui feito um monge.
II
O relógio na sala anuncia minhas dores
de ver à janela o deserto dos homens
e não desejar pensar, apenas ser flores.
O ritmo vagaroso do que sinto
descortina meu tédio de tudo
a vida dói! E sangra nesse recinto.
III
Tenho nos dedos a febre de um poema
que ofertarei a minha mãe
na sua passagem solar, sem teorema.
Porque só me resta o rio de teus olhos azuis
assim feito o menino sol
a brincar num jardim de girassol.