Há uma mulher que cuida da cabeceira da Imperial Ponte Dom Pedro II.
Seu corpo arqueado, o queixo quase sempre grudado ao peito, o olhar de baixo para cima e o cenho
franzido disfarçam os conluios que esta cuidadora tem com o Rio Paraguaçu.
Em noites desestreladas, ela mergulha na salobridade do rio. Passa horas entre as pititingas, os
camarões e siris. Atravessa-se na poluição oleosa e fecal das águas.
Sabe de peixes e de crustáceos tanto quanto sabe dos restos dos homens e mulheres que habitam às
margens.
A cada um de nós, ela desvela com seu olhar salobre
e a loucura de quem pode guardar pontes,
sem nunca ter que atravessá-las.