Uma ponte, do Pontal
ao Centro, por sobre a Barra
e os naufrágios que tem dentro.
Uma ponte que ligue Ilhéus
a Ilhéus, em menos tempo
que a Lomanto, com os seus
quilômetros de engarrafamento.
Uma ponte. O sonho da ponte
como, antes, o sonho das dragas
e do porto, comendo a Barra
e escoando cacau no horizonte.
Uma ponte, que ligue o Pontal
ao Centro, passando por sobre
o naufrágio do Itacaré
e os gritos de mil novecentos
e trinta e nove… − qualquer
ponte é sonho e cimento,
mas a ponte de Ilhéus a Ilhéus
não será só esquecimento?
Cruzando o cartão-postal
− a Barra, o Pontal, morro adentro −,
a ponte estaiada estará
desobstruindo o lento
engasgo entre Ilhéus e Ilhéus
ou espinha de peixe-tempo?
In: Cacau inventado. Ilhéus: Mondrongo, 2015.