Jacira é
filha da lua – a senhora me contava –
e também um tremeluzir que são os meus olhos
nos teus refletidos,
YACY IRA,
mel da lua – contava minha avó –
leite tupi que me fez a entranha doce
como um enxame de abelhas,
como tu mesma,
Jacira,
mãe de minha avó – a senhora me contava –
e também do laço que a sequestrou de si
para sustentar laços de família estranha
e seus paternais açoites
Jacira,
lua de mel – o vento acaricia e conta
das águas doces que acalentam o peito
de quem carrega feridas ancestrais,
enquanto a senhora me trança os cabelos,
crespos revoltos como os de meu pai
Jacira,
a velha que não conheci – contaram-me
que chorava falta de sua gente bugre
e diante do mar absoluto intuía o costume
que lento tecia as carnes de nossa gente:
partida
Jacira,
suas tralhas, seu rebento, sua cicatriz
seu sequestro que nos ditou luz a língua
sua revolta que nos deu olhos de vidência
e pés ciganos ao tempo em que nos dava
o teu nome-terra mãe
Tupi?
Jacira,
mel da lua – astro bruxuleante espelhado
na superfície das águas contava-me
nas ondas dessas linhas algo de tua verdade
uma imagem na poesia desta língua
que são muitas e a única que hoje nos cabe
Jacira,
filha da lua – a senhora me contou –
e mais me disse um tremeluzir
que são os meus olhos nos teus refletidos,
senhora feita do tempo infindo
e sempre ainda devir
mãe