Toco as costas da moça nua,
deitada a meu lado na penumbra,
e sinto a sua pele mansa,
como ovelhas na montanha
da nuca que se insinua.
Sob o lençol macio, um mundo pulsa,
e minha mão desliza, inteira
sobre ela, moça nua, elo perdido
entre o que sou e o que flutua.
Sem dizer nada, sinto que peço
que me devolva a paz da infância,
e que me mostre o mundo, a substância
do que é vida dentro de mim.
Sem dizer nada, sinto que impeço
que ela se abra e me devore
e coma o fruto que ofereço,
em sumo, carne, língua, dedos,
fluido etéreo do amor que teço,
terço que rezo, prenhe de sim,
nu de razões ou de adereços.
São Selvagem (P55 Edições, 2014)