corri menino
no bate folha
das roças de cacau
fugi menino
da caipora
que em assobios e arrodeios
perde os homens nos fins de tarde
na esvaecida cabruca
bebi menino
as águas frias
da mata
especialmente
as que choravam da pedra
no cachimbo da velha
e as que se avolumavam
no poço das traíras
corei menino
meus braços pálidos
no calor fermentado
das amêndoas no cocho
pisei menino
as amêndoas nas barcaças
e retirei a sibira
sorvi menino
o mel do cacau
escoado da quebra das bandeiras de frutos
sementes amontoadas sobre a cama de folhas de bananeira
cruzei menino
o riacho
pela raiz da gameleira
e descansei menino
na sombra da eritrina
da sucupira e do jacarandá
doce infância retorna
quando nas noites
o chocolate das fábricas vem agradar os olfatos
PS: Poema publicado em amenindades (Editora Mondrongo, 2014)