As filhas da lavadeira
eram três meninas negras,
e eu me sentia melhor que elas
por estar do lado de lá do rol de roupas.
As filhas da lavadeira
vinham da periferia,
equilibrando em suas pequenas cabeças
imensas trouxas.
E nem podiam ceder à tentação
de alguma brincadeira.
Sentavam-se sérias e compenetradas no sofá,
com suas roupas muito brancas,
tão alvas que ainda hoje me pergunto com espanto
se as filhas da lavadeira não eram anjos.
São Selvagem (P55 Edições, 2014)