Meu pai contou uma história
E eu vi o que é ser criança
Roubava melancia na roça
E saía enchendo a pança
Com toda a meninada
Saía pra badogar
Assava uma pombinha
Ou pegava pra criar
Fazia boinho
De fruta de quiabento
Furava os dedos
Mas não tomava tento
Carrinho de lata de óleo
Era muito chique
Se é que existia essa palavra
No tempo do piquenique
Piquenique, não!!!
Panelada era o nome
A melhor coisa da vida
Todo mundo ia brincar
E esquecia da comida
Arroz queimado e feijão cru
Era a paiada no meio da prosa
Nunca uma comida ruim
Fora tão gostosa
E tinha menino sob o sol
Levando gado pra manga
Andando no galope
Do jegue com sua canga
Boneca era sabugo de milho
Que um pano velho
Pegava pra enrolar
Ou a espiga com cabelo
Lá no meio da roça
Que dava vontade de roubar
Os meninos jogavam pião
As meninas jiribita
Tinha quem passasse
Todo o tempo
Soltando pipa
Brincar de boca de forno
Era para os maiores
Crescer era o desejo
Brincar de cair no passo
Passo pro primeiro beijo
Massa de modelar
Era lama no tempo da chuva
A lama “interte” e ilude
As meninas faziam casinha
E os meninos bola de gude
Na fogueira assava o milho
Hoje os homens jogam
E as mulheres criam os filhos
Só não brinca mais
Com carrinho de lata de óleo
Nem levam jegue na manga
Andam de “bis” e não sabem
O que é uma canga
Se rouba uma melancia
Não é como brincadeira tida
Segue outro rumo
E vira ladrão pro resto da vida
Brinar na lama
Não pode!
A roupa é nova
Boca de forno
Nem pensar!
Amanhã tem uma prova
Deixa a boneca aí
Que pode quebrar
Bicicleta não
Que pode machucar
Vai assistir televisão
Mas sem perguntar
E ainda me vem
Um “demente”
Porque os meninos de hoje
Não são como
Os de antigamente?