Se as coisas não estão indo bem, comece pelas gavetas. Abra-as uma a uma, jogue as coisas no chão, pegue um saco de lixo e coloque Gilberto Gil para tocar. Olhe bem para toda a bagunça, respire fundo, mas comece pelas gavetas. Passe um pano, tire o pó, olhe para o vazio e encare seus acúmulos de frente.
Comecei pelas gavetas do trabalho. Duas. Abarrotadas de rascunhos, anotações, livros, layouts não aprovados, bilhetes carinhosos e engraçados que trocamos carinhosamente no decorrer dos dias, maquiagem e outras coisas. Fiz a limpa! Deixei apenas os bilhetes de afago, um bloco de anotação, duas canetas e os mini clipes coloridos de plástico.
Em seguida, peguei as gavetas de casa. As de roupa, ainda guardavam uma identidade que não me pertencia mais. Saias, que há anos fazia planos de usar quando emagrecesse e que não condiziam mais com a minha moda, curtas demais, justas demais, tecido pesado demais. É verão! Vestidos que guardei o modelo e que tenho convicção de que não vai rolar.
Um monte de ‘peça volume’ dessas que a gente insiste em guardar para preencher o espaço, num misto de medo e vergonha do vazio. Afinal, quem quer exibir um armário vazio quando alguém lhe pedir uma peça emprestada? Excessos de bagagem que a gente aprende a cuidar quando quer alçar voos e as taxas de peso extra se 15 mostram muito caras. Não sobrou quase nada. 20 peças no máximo e olhe lá.
Depois foi a vez da sala de estudos. Rasguei como sempre faço na hora de organizar a vida, um monte de papel, revistas velhas e coloquei tudo no lugar. Agora eu conseguia ver exatamente onde estavam os livros de arte, as apostilas de desenho, minha coleção da revista “Decore mais por menos” e em um passo de arrumação a vida voltou a ganhar nitidez.
Se a gente não arruma as gavetas de nossas vidas, quase nunca sabemos o que está faltando e/ou sobrando. Resta sempre uma sensação estranha de “eu tinha alguma coisa pra fazer, mas não sei o que é”, “ bateu uma vontade de comer uma coisa gostosa, mas não sei o que é”, “eu queria fazer alguma coisa diferente, mas não sei que é”.
Talvez hoje seja um excelente dia para arrumar as gavetas, não? Mas se quiser recomeçar amanhã, não esqueça: comece pelas gavetas!