Mal acabo o que começo,
sempre acho: – ah, mas, aqui, falta-me algo.
este dia, por exemplo, aziago,
nunca, nunca se completa.
e há um minuto errante
em tudo, em tudo que faço.
nesta hora, por exemplo.
há um minuto errante, errante,
que nunca, nunca, enxergo.
por qual razão, meu Deus,
acha que posso dar conta
de mim, e deste mundo?
só posso rir, esquecida
do tanto que sou. Mal
acabo o que começo,
sempre acho, o início:
– ah, mas, aqui, falta-me algo…
Vês, o amor?
São Selvagem (P55 Edições, 2014)