13 h. Sol desaba grosso sobre o lugar. Agora o contorno da praça. Velhos bancos d’encosto esbranquiçados e uma ou outra folhagem pendida.
Cambaleante a composição se desloca. Freia. Torna avançar e ganha a plataforma. Cheiro rude de borracha e ferrugem se rebela, e invade o suar da tarde. Intempestiva.
Sacolas e pessoas descem. Algumas poucas adentram. Asfalto brilha opaco seu tom efervescente. Sem forças, espio pelo fio da janela. O lá se fora.
− … 20 minutos. Voz cruza assentos engordurados.
Deixo ficar. Finco o que de olhar possível ainda há no corredor. Rastro de poeira debandada para os lados.
Gordo velho – camisa aberta, chinelos suados − estorva o peso lento para fora: “calor, chê”. Não olho para ele. Recordo a partida noite atrás. Desconhecidos se abraçando. Soluços. Uma-e- outra tristeza solitária. De viés – em contraste a tudo – sorrisos de algazarra em par de crianças doidas para o ir. Felicidades interditas. Depois o ganhar terreno, cansaço: vasta linha negra no negrum da noite. Para trás o que restara de mãe, de pai, de pipas em vento.
Ao dar-de- conta, tropel pouco a frente. Passageiros debandados retomam assentos. Só agora observo o apático nos traços obesos; sob suor qu’inda lhe escorre espesso. Rosto em chamas. Mais uma vez, deixo por estar. O calor dormece o pensamento qualquer.
Súbito, por de-trás, em berros, abre-se janela:
− podimbora que já vô
− diz pra mãe; rebate o outro em pé na plataforma
− eu sei
− ó; diz pra mãe que mando 100
− mãe sente falta
− ó, tão diz que mando 120
− fica com deus
− sei. cuida bem dela
− quando cê vai?
− diz pra mãe que mando que dé. 150. quase tudo.
− ônibus já vai. Dois dia té mãe.
− ó
Os gritos vibravam entre si no torpor da hora. Nem forças para virar-me. Só mesmo a explosão caustica da conversa farrada ao fogo do motor ansiando movimento.
Após, o ganhar-de- chão. Novamente o deserto da praça. Miragem escaldante no asfalto. Curva e, por outra, paralela. Plataforma enublada ao lado oposto. Sol torrando de frente.
O outro inda lá. De pés. Enterrados. Olhos para o vazio encharcados da tarde. Suo descarnado em precipícios. Saco d’embrulho ardendo no chão.
Num só momento, as mãos nos bolsos surrados da calça: movimento de retorno delas. Só mesmo o deslocamento do ar – abrupto – enriquecendo a paisagem.