Douglas de Almeida é um poeta que desde os tempos de garoto, quando desafiava com irreverência a ditadura do regime militar, na virada dos anos 70 para os 80, coloca a boca no trombone e o dedo na ferida. É um legítimo herdeiro da tradição de vanguarda da Bahia, já que o Movimento Poetas na Praça, do qual fez parte, sucedeu culturalmente o Tropicalismo e os Novos Baianos. Ele editou várias revistas de poesia, entre elas a Sem Perfil e a Tá Tudo aí, e, através da Tupyhanarkus, publicou muita gente boa. Junto com feras como Walter Cézar, Lídio Barros, Zeca de Magalhães e Dorival Limoeiro, formou uma verdadeira Brigadas Vermelhas da Poesia durante o início dos anos 80. Contra tudo e contra todos. Douglas de Almeida é descendente direto de Gregório de Mattos, o Boca do Inferno, por manter acesa a rebeldia e oposição no mesmo itinerário geográfico por onde circulou o poeta pornográfico do barroco há 300 anos. E quando coloca o pé na estrada, ele não deixa por menos. Já organizou festivais de poesia e oficinas literárias em Vitória e no interior do Espírito Santo. O poeta baiano, natural de Itabuna, é conhecido até internacionalmente. Em 1999, foi convidado pela Casa da Palavra, da Secretaria de Cultura de Buenos Aires, para substituir Ferreira Gullar num festival de poesia na Argentina. Se perguntarem aos intelectuais argentinos que frequentam o Centro Cultural Ricardo Rojas, na avenida Corrientes, ainda hoje ,se eles conhecem o poeta brasileiro Douglas de Almeida, eles vão dizer que sim. Pois desde 90 o baiano é figurinha carimbada por lá. Além disso, ele mantém, utopicamente, duas bibliotecas comunitárias. Uma velha obsessão sua como educador. A primeira, confiscada por fiscais da prefeitura soteropolitana, ainda na década de 80, foi a Prometeu, que funcionava em frente ao Campo Grande e cujo espaço era o de uma banca de revistas. A outra, a Betty Coelho, é direcionada ao público infanto-juvenil. E se a Bahia é o berço da cultura brasileira, Douglas de Almeida pode ser apontado como um poeta brasileiro dos bons. Do mesmo nível que os mais aclamados do Rio de Janeiro e São Paulo, que desfrutam de mais publicidade. Douglas de Almeida foi longe com a sua poesia mesmo tendo permanecido na Boa Terra, onde polemiza no centro e reina na periferia. – Texto de Flávio Sarlo