Vou de passo em passo como quem
transmigra de vida em vida
em busca dos seus mortos felizes.
Sinto perdido o sono que nunca tive,
mas que imenso desejei na
ruminação entredentes da vigília.
Sinto perdida essa mesma vigília
que me escapa pesada das mãos,
paradas à espera do último aceno.
Sinto perdido o mundo que não vi,
a guerra em que não lutei, o poema
que não escrevi. Nem escreverei.
Desembarco deste carro como quem
embarca na busca de abrigo,
em novo lar desconhecido.
A necessidade faz o hóspede
que não foge ao seu destino,
mesmo que para isso sinta perdido
o que nunca teve nem terá, mas que
intensamente sempre buscou.