Sou filho da roça nasci na pobreza
Cortei de machado limpei de enxada
Cavei cacimbão vasculhei levada
Já plantei batata no chão da represa
Vendi meu suor buscando a despesa
Já cortei sisal pra desfibrar
De uns tempos pra cá comecei cantar
Nem tenho nem posso ter tudo que quero
Mas tenho esta arte que tanto venero
Nos Dez de galope na beira do Mar
Não posso dizer que o tempo tá ruim
Porque meu passado foi muito pior
Não tinha direito por ser de menor
Topei os castigos que vinham pra mim
Hoje a minha vida está sendo um jardim
De flores nascendo para perfumar
Confio que nada venha me faltar
Eu peço a Jesus e ele me manda
Colchão de veludo rede de varanda
Nos Dez de galope na beira do Mar
Veja o sem-terra como é que ele faz
Atrás de café, almoço e merenda
Chega toma conta de qualquer fazenda
Quinhentas famílias seiscentas ou mais
Ai aparece o PT e joga gás
Dentro da fogueira pra ela queimar
O rico tem terra e não quer trabalhar
Mourão de enxada dono de medalha
Nos Dez de galope na beira do Mar
Herói da estrada é o caminhoneiro
Que deixa a família e a moradia
Transporta o progresso pela Rio-Bahia
Sujeito à virada e ao pistoleiro
Mas não tem o brio que tem o vaqueiro
Que entra no mato para campear
Sem medo que espinho venha lhe furar
Não teme o perigo que vem pela frente
Puxando no rabo de vaca valente
Nos Dez de galope na beira do Mar
O homem trabalha exibe coragem
Enfrenta canhões lutando na guerra
Derrama suor cultivando a terra
Em tudo que faz pra ele é vantagem
Porém a mulher é sublime imagem
Deusa no amor rainha no lar
Além de ter filho lhe dá de mamar
Zela a residência cuida do marido
Garante o seu nome respeita o vestido
Nos Dez de galope na beira do Mar
Uma festa feita pelo sanfoneiro
É muito bonita tem ritmo tem dança
Suor molha a roupa cabelo balança
A mulher rebola com o companheiro
Só que mais bonito é um violeiro
Cantar um galope sem antes criar
Sem ter bateria pra lhe acompanhar
Fazer a plateia vibrar no salão
Sorrir com o verso chorar com a canção
Nos Dez de galope na beira do Mar
O rapaz solteiro tem a vida boa
Não tem compromisso vai pra onde quer
No lugar que chega arruma mulher
Quer seja moderna quer seja coroa
Mas só que o casado é outra pessoa
Tem uma esposa pra lhe deitar
Fazer a comida colocar na mesa
Lhe dar alegria ao invés de tristeza
Nos Dez de galope na beira do Mar
É muito difícil para o caçador
Cipó lhe amarrar, espinho lhe fura
E retorna pra casa com a capanga pura
Com fome, com sede, cansado, com dor
Mas difícil mesmo é pra o pescador
Com rede com linha e anzol pra pescar
E as vezes volta sem nada pegar
O peixe não vem a canoa vira
Ainda é chamando de rei da mentira
Nos Dez de galope na beira do Mar
O lojista diz que tudo parou
O imposto subiu o freguês não vem
Passa o dia inteiro e não vende a ninguém
Mas se vendeu com a metade sobrou
Porque pior mesmo é pra o camelô
Passa o dia inteiro somente a gritar
Agarrando o povo obriga
Mesmo assim não vende a mercadoria
Inda chega o rapa e lhe toma a guia
Nos Dez de galope na beira do Mar
Pra gente ruim, Bule-Bule é ralo
Mas pra gente, Bule-Bule é flanela
Leva pra TV, apresenta na tela
Aperta na mão até criar calo
Dá medicamento livra do entalo
Se o cabra morrer, ele vai enterrar
Pedindo que a alma chegue a se salvar
Os bens que ele faz que o povo calcule
Ninguém é melhor do que Bule-Bule
Nos Dez de galope na beira do Mar
Trabalho poético é onde se emprega
A inspiração de um assunto novo
Pedindo o apoio de Deus e do povo
E a compreensão de cada colega
Nesta profissão que me sossega
E um amigo por onde passar
Ser sempre abraçado, também abraçar
Por isso é que vivo fazendo amizade
Tocando viola e cantando saudade
Nos Dez de galope na beira do Mar