J.B. era um menino de 11 anos. Todos os dias, pela manhã, eu ouvia sua mãe ralhando com ele: Esse menino não para em casa, não tem sossego nem para comer.
E ele respondendo: – Pera aí, mãe! Daqui a pouco eu volto. De tarde eu trago o dinheiro do pão. E toda tarde ele trazia até mais: café, biscoito, mortadela. Quando sua mãe perguntava, ele dizia:
– Foi os cara gente boa que me deu.
Um dia J.B. pegou uma mania – ou um vício – de ficar empinando pipa o dia inteiro lá no Morro do Campinho. De manhã bem cedo, ia para o quintal, embaixo de umas madeiras velhas, pegar uma lata de leite enferrujada, coberta de linha, e uma pipa. E subia o Morro. Tinha muitos amigos e
todos subiam o Morro para ver ele empinar ou dar uma palavrinha com ele.
Certo dia, J.B. não quis sair, ficou lá no quintal e avisou à mãe que não estava para ninguém. Ficou dois dias sem sair. No terceiro dia, ele pensou, pensou e resolveu sair com sua linha e sua pipa. Subiu o Morro como sempre. Duas horas depois, ouviram-se tiros e muita gente correu em direção. Lá, encostado num pau que servia de trave, estava morto J.B. Foi aquele alvoroço e muitos comentários:
– Menino bom!
– Gente boa!
Mais tarde, a polícia chegou para perícia e retirada o corpo. Quando abriram a lata da linha de pipa, estava cheia de crack. Levaram o corpo. Junto à trave, ficou uma poça de sangue. Três meses depois, descobriram um viçoso pé de maconha no lugar.