Meu senhor, meu marido,
quantas guerras já travei
meu senhor, meu marido,
quantas armas empunhei
meus cabelos de donzela
o meu seio pequenino
minha face mesmo bela
verde o traje masculino
fui serpente fui mulher
fui homem e fui semente
doce e terna aço vil
pedra passo varonil
terra firme pomo forte
Eva e Adão
tiro certo neste canto
talho reto
cego o pranto
rasgo o ventre
deste chão.
Mão de neve
em luva férrea
cambraia ou algodão
brame a clava
em seda densa
tenso laço
em meu facão.
O pó que me sombreia
é rastro do cavalgado
no peito que se alteia
corre o leite ensanguentado
meus úberes se negam aos mortos
e aos vivos se oferecem
sou prenda e sou perdão
sou mulher, homem não.
Meu senhor, meu marido,
quantas feras enfrentei,
mas guerra assim não há
batalha maior não tem
que ser livre neste laço
do abraço do meu bem.
Neste amor que a ti devoto
como à pátria tanto amei
na armadilha do eterno voto
luta maior nunca travei.