Vi-os latirem para o mar,
treparem nas pedras que se empilham
no sopé do Monte Serrat
enquanto branquejavam murada
e bastiões do velho forte, feito museu.
Vi-os, cachorros, comporem seu balé de ferozes,
cheirando o quê, de meio à maresia,
era almíscar de fêmea, certeza de prole,
corneta indeclinável,
inodora para mim.
Vi-os maquinando a matilha
de focinhos de virilhas
e, de estéreis rochedos,
urdirem promíscua ilha.
Não os vi chegar. Mais cedo,
que eu, que transitava à toa,
teriam eles, cães, sido impelidos
a desertarem ruas, deveres de guarda,
ossos de aves. E gatos. E desertaram,
e o séquito
rumara colorido para a praia.
Ladravam para as ondas – vi-os. E as ondas
brigavam entre si, elas alheias:
“Cães são navios”. Eles, úmidos,
mantinham-se ali, caninos porém:
como salgando-se… Até
que desciam; mas subiam novamente
– eu sem entender. Às vezes,
um a outro abocanhava, mas irado,
não apenas por mostrar-se.
Era de tarde: trezentos e tantos da invasão holandesa.
Grato, mui grato,
o portentoso forte,
com seus fantasmas, com seus canhões apontados para o poente,
guarnecia o cio.