Era para a meia-lua ser inteira, mas algo na esquiva de Santinho já me diz que vou ter que mudar de ideia… Um lampejo na pele – kaô, meu pai! Eu podia jurar que ele ia descer na negativa… Agora tô eu e meus setenta e cinco quilos presos no chão somente pela ponta do meu pé esquerdo. Meu mundo suspenso no bico de um compasso. Logo nem precisarei de adversário além da gravidade. Ela não perdoa. E esse raio de lembrança em meu ouvido. “Cuidado com a meia-lua, se não quer ver estrela, hein!” O mestre. “Meia-lua não combina com rabo-de-arraia…” Me empolguei. Jogo quente, vadiagem brincalhona… Perdi uma viradinha de folha no movimento de Santinho. Ele me adivinhou…
Ele, curva. Como perguntar de novo: “Santi, e se o camarada se afoba e não vê que a esquiva é pro rabo-de-arraia?” Me sacaneou: “Aí pede pra Deus parar o mundo, vai em casa, pega um travesseiro bem fofo e já vem com ele na bunda!”Risada geral no bar, depois do treino.
No jogo, o mundo é tempo-luz! Os braços de Santinho se estendem pro lado como se fossem parmear uma saca feijão. Serei eu esse fardo?.“E saindo no aú?”, tentei. “Saia com seu aú… Se for eu do outro lado, não vai resolver nada. Vou lhe buscar de cabeçada no meio do bucho!”
Aqui, as mãos dele se plantam pro rabo-de-araia – e o grito retardado de alguém percebe minha falha. “Aaah!” O vento vem me salvar como uma cabeçada invisível. Meu corpo decide sozinho. Quebra no meio. Interrompo a meia-lua e vou pro aú que ele desprezou. Onde estava meu pé esquerdo, passa o calcanhar de Santinho: facão faminto por bananeira. Ele é outro giro, e sua cabeça uma promessa crescendo na direção do meu umbigo. Acho que mal dá tempo de descer do aú e abrir os braços numa chamada de misericórdia.
Agora vem lento, sorrindo…
Santinho me perdoou?