Elas despem as afrontas e cantam, suspendendo os rastros de dor; tornam-se sombra, entregam-se ao sagrado. Dizem que quem canta seus males espanta. Elas espantam a tristeza com seu canto, trajadas de cores simbólicas, enfeitadas com contas de sentido sem tamanho. São mulheres de santo negras, mulheres de fé. Acordam no pensamento a todo instante, a proteção do seu orixá, é só distrair a mão no pescoço, que as contas iluminam as trevas no caminho. O clarão vem como um raio antes do trovão quando elas passam em cortejo, vestidas de branco, espantando fantasmas da existência. Vozes ecoam, desassombrando o tempo, que acompanha o compasso num passo de eterno abrigo, assustando a tristeza, soltando a felicidade em qualquer ocasião. Certas lembranças acesas pelo toque dos atabaques embalam a memória, o toque do agogô acorda o transe, elas dançam pelas florestas, rios, mares, retornam suadas e felizes. Regressam a vida desesquecidas por instantes, o orixá Ogun acende o caminho no mato. Pegaram certezas neste reencontro inesperado, esperam uma vida de alegria demorada, com esta luz que ilumina a floresta. Toda noite elas cantam convidando os orixás e, dormem um sonho de felicidade. As mulheres de santo a cada dia estavam mais felizes, alegria vista, atraindo mulheres negras cheias de sofrimento. Dessa maneira se tornaram Irmandade. Milho ou feijão decide o nome. O milho confirmou o nome Irmandade da Boa Morte. Elas aprenderam a perder a memória da dor, coagulando o tempo na felicidade, servindo para as duas finalidades, vida e morte.