Ao meu amigo e irmão Kleyson Assis, no tempo da saudade.
Na calçada apenas se sobrevive.
Debaixo do tapete perpétuo
que se estende nesse infindo olhar anêmico,
estamos sós:
a calçada e eu.
Eu passante, esquecido, solúvel no tempo;
Ela faminta, Insolúvel, fantasma que vela
– por baixo –
nossa sobrevivência.
Pega teu café, oferece a calçada, e ela
– resignadamente sádica – recebe inclinada
tua ingênua indiferença.
Escarra na boca da calçada,
pára sobre ela,
larga tuas Sobras sobre ela e observa
as mucosidades dessa vida (bendita)
abraçada, numa lascividade lenta,
pelos lábios da calçada que se abrem
antes e depois de tua escarrada:
a calçada respira, há muito tempo…