– poema em um ato
Personagens: Errático, Botão 1, Botão 2
Cena: Sala, mesa de trabalho em desordem, porta e janela abertas
Botão 1
(Finalizando um discurso: /tom de voz monocórdio, mas enfático/
suas palavras têm o fio amolado /da concisão quando persegue o errático.)
– Objetividade,você deve ser mais preciso.
Errático
(Com preguiça. / Porque a precisão lhe suscita tantas dúvidas? / Mas, quer falar. E atiça.)
– As certezas…
Botão 2
(interfere rápido.)
– …fazem acontecer.
Errático
(Com voz impaciente, recomeça.)
– As certezas parecem um tipo de fé, envolvem. É isso.
Mas… e quando o que se pretende
é o incerto feitiço?
Errático ainda
(Pensando: há muito não conversavam / sim, ele e os botões!/Na verdade, se falavam /ríspidas, breves palavras/o tempo de um susto./“Passou, passou”–diziam a si mesmos, como se consolassem crianças. /Mas hoje, decidido, ele avança.)
Incertos feitiços, milagres secretos quero muitos
não existe desejo solitário
das inúmeras possibilidades envolvidas com tantas outras
não abro mão.
E admito o gosto pelo exercício da imprecisão.
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Porque em qualquer coisa que se faça
tantos são os apelos em toda a trajetória
que apenas o cessar fôlego
parece conter a história.
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Botão 2
(Assustado.)
– calma, calma. Estávamos apenas…
Errático
(irritado.)
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Mas então, urge chegar ao inverso.
Combinar o possível, o improvável, ouvir acordes
(serão acordos os acordes?)
retirar excessos.
E, de algum modo, fazer
com que tudo se encontre, se concentre:
Que a densidade admita a leveza e a leveza a sustente.
Errático ainda
(Exausto.)
Sossegar?
apenas quando todo o enredado
se transforma em concisão.
Botão 1
(Com voz atônita.)
– Ah! E depois… a culpa é do botão.