Dona Judite, a senhora
Sente saudade de quê?
– Eu vou dizer pra você
Minha comadre, Aurora
Sinto saudade de Dora,
Toinha e Aparecida
Da tardinha entardecida
Quando a gente se assentava
No varandado e falava
Das coisas boas da vida.
Parece que estou sentindo
O cheirinho do café
E ouvindo Salomé
Contando causos e rindo.
Vejo o gatinho dormindo
No travesseiro da porta,
Na lembrança, me conforta
A brisa que passeava
E às vezes se rebelava,
Deixando a toalha torta.
– Pois bem, Comadre Judite,
Essas coisas não têm preço.
Lhe juro que não me esqueço
Da cachorrinha Afrodite.
Dos chás para o apetite
Das folhas do seu quintal
Era tudo natural
Como a nossa amizade
Tinha sabor de verdade
Nosso falar informal.
As horas ligeiramente
Passavam e ninguém via
A gente se divertia
Que só quem sabe é a gente.
Inda que fosse doente
Ninguém se entregava a dor
Pois era consolador
Nosso franco prosear
Ainda mais para curar
As feridas do amor.