seja para ganhar dinheiro ou
fazer o que se ama,
o preço que se paga
às vezes
é alto demais.
e há dias em que me sinto como Picasso perdendo a mão direita,
um país a eleger um estúpido tirano
ou Messi tendo arrancado o seu pé esquerdo.
quem estabeleceu que para sobreviver
precisaríamos nos transformar em
completos imbecis?
a fim de manter o equilíbrio
e não me deixar levar pela vileza das convenientes estradas,
tento sempre caminhar
como se estivesse
a praticar slackline
em linhas tênues
de cordas bambas.
minha vida tem sido como bolas de futebol
rolando em ladeiras de várzeas de comunidades,
mas, verdade seja dita:
ou você se deleita com os prazeres provenientes de suas próprias ambições
ou morre engasgado com o elixir da mentira.
por isso, sigo escrevendo como se fosse morrer amanhã,
detestando a cordialidade das felicitações curtas e automáticas
e enxergando a vaidade como um bem a ser zelado
para que não morra o amor-próprio.
no bom português,
a junção de todos estes problemas
poderia ser chamada de “bola de neve”
mas, na minha terra, o clima é quente
— deve ser por isso que dos meus dedos sai fogo.
em um tempo onde autoridades são inimigos declarados,
cada vez que durmo, eu morro,
mas nunca me deito sem ter vivido
e sempre acordo com sangue nos olhos.
penso naqueles que somente vislumbram os
próprios sonhos quando estão dormindo:
como deve ser terrível acordar.