Torço pelo sucesso dos vagabundos e dos desesperados. Pela sorte dos ladrões de banco e dos malandros que vivem curtindo cada minuto de vida. Torço pelo menino de rua solitário que tem a esperteza inata como única arma diante das injustiças do mundo.
Torço pelo gol validado por um lindo erro do juiz. Torço pelo carnaval desorganizado e pelo São João em que se toma cachaça passando de casa em casa, tudo de graça, tudo de bom grado. Torço pela alegria e pela putaria.
Torço pelo que é torto e pelos erros de português. Pelo tropeço que nos ensina e nos torna mais confiantes. Torço pelo muro pichado. Pela poesia improvisada, não anotada e esquecida na mesa do bar. Torço para o sol contra a frieza do protetor solar.
Torço pelos líderes verdadeiros do povo que não concorrem a cargos eletivos. Pela música brega e seus incríveis cantores anônimos. Torço pelo chafariz público e o abraço submerso na água gelada. Pela vitória da natureza contra o vírus humano.
Torço pelos que acreditam que Jesus foi um grande hippie. Torço por todos os hippies que não acreditam em Jesus. Torço pelos livros proibidos e pelos escritores sonhadores. Torço por todos nós, espiritualizados, que sabemos de cor de que lado estamos.
(Quando A Luz Do Sol Desaparecer, Nada Vai Se Alterar No Universo; Crônicas, Editora Via Literarum, 2018)