Deus ficaria bastante preocupado se todos os homens
acreditassem nele sem restrições. Ele fez o mundo para gente
festeira e não para filósofos tediosos que querem descobrir o
indecifrável. Ele também ri descontroladamente quando os padres
constroem sua imagem e acreditam falar abertamente com ele de
forma tão íntima.
Tudo bem. Tudo é válido, mas se uma simples formiga possuir
uma fé verdadeiramente potente receberá sem dúvidas a tão
esperada folhinha verde que deseja ansiosamente. Aliás, falando em
folhinha, tem uma que os homens fumam no mais profundo
silêncio e que foi feita justamente para ver todas as milhares faces
possíveis do senhor.
Às vezes, Deus se parte em trezentos pedaços ao redor do
universo inteiro e fica brincando coletivamente de se juntar de novo
em uma coisa só. Outras vezes, Ele se multiplica em duzentas partes
e fica a esperar que essas partes finalmente se reproduzam o mais
rápido que puderem e fujam logo para formar novos deuses.
E quando está totalmente inteiro Ele só deseja descansar sem
começo, sem fim e sem ninguém lhe chamando com pedidos que
nunca vai realizar. Assim, parado na solidão do tudo e do nada,
Deus só quer mesmo inventar mais uma nova atividade que evite o
chamado de gente que mal sabe que medo mesmo quem sente é Ele.
(Quando A Luz Do Sol Desaparecer, Nada Vai Se Alterar No
Universo; Crônicas, Editora Via Literarum, 2018)