Foi uma noite inesquecível. Eu tinha uns dezesseis anos, acabara de chegar da capital baiana e me hospedava na casa do meu tio Maurício. Pretendia passar a noite ali, naquela casinha em Lençóis, porque no dia seguinte começaria o Festival de inverno. Na minha chegada, quem me recebera foi a mulher do meu tio, a tia. Margarida. Uma moça de seus trinta e cinco anos, muito religiosa e simpática. “Seu tio está viajando, meu filho, desculpe, não lembro seu nome”. É Roberto, tia Margarida, respondi. “Me chame de Margarida, menino, que formalidade é essa?”. Na mesma hora meu rosto ficou quente, não sei se foi pela quebra de formalidade inesperada ou se foi porque os olhos de tia Margarida encontraram meus olhos fixos no saliente decote dela. “Tudo bem”, disse, apenas, desconsertado. Apesar do embaraço inicial, tudo correu bem em seguida: tia Margarida indicou meu quarto transitório e sugeriu um momento de descanso antes de me servir a janta. Imaginava o meu cansaço após aquela longa viagem. Me desfiz das roupas e tomei um banho rápido nas águas geladas de Lençóis. Com a imagem do decote de tia Margarida tive uma leve excitação no banheiro. Eu não podia esquecer que ela era como minha tia, afinal, era esposa do meu tio Maurício! Quando eu já nem lembrava do jantar, deitado e envolvido em mil pensamentos, ela bateu na porta que se abriu vagarosamente. Eu tomei um susto, havia esquecido de trancá-la (se eu tivesse nu, pensei, seria bastante embaraçoso!). Sorridente, tia Margarida anunciou que a janta já estava pronta. De repente, eu estava jantando com uma bela mulher de trinta e cinco anos, que me sorria e parecia me provocar com aquele decote descomunal. Mas que era minha tia, oras! “Sabe Roberto”, ela me disse, mordiscando um pedaço de pão: “você bem que parece com seu tio Maurício quando era novo”. “Os olhos, a cor, e até o sorriso parecem muito”. “Olhando pra você, eu até me sinto mais jovem, como se eu estivesse jantando com o Maurício de quinze anos atrás”. E, desconcertado, lhe disse: Mas você ainda é jovem, tia Margarida, e logo corrigindo-me: “digo, Margarida”. Ela sorriu lascivamente, ou assim pareceu. Um encontro de olhos e uma sensação de algo proibido pairava naquele jantar. Foi uma noite inesquecível, recordo-me, ainda confuso.